"O tempo, de vento e vento, desmanchou o penteado
arrumadinho de várias certezas que eu tinha, e algumas vezes
descabelou completamente a minha alma. Mesmo que isso tenha me
assustado muito aqui e ali, no somatório de tudo, foi graça, alívio e abertura.
A gente não precisa de certezas estáticas. A gente precisa aprender
a manha de saber se reinventar. De se tornar manhã novíssima depois
de cada noite longa escura. De duvidar até acreditar com o coração
isento das crença alheias. A gente precisa saber criar espaço, não importa
o tamanho dos apertos. A gente precisa é de um olhar fresco, que não
envelhece, apesar de tudo o que já viu. É de um amor que não enruga, apesar
das memórias todas na pele da alma. A gente precisa é de deixar de ser
sobrevivente para, finalmente, viver. A gente precisa mesmo é aprender
a ser feliz a partir do único lugar onde a felicidade pode começar,
florir, esparramar seus ramos, compartilhar seus frutos.
Tudo o que eu vivi me trouxe até aqui e sou grata a tudo,invariavelmente.
Curvo meu coração em reverência a todos os mestres, espalhados pelos meus
caminhos todos, vestidos de tantos jeitos,algumas vezes disfarçados de dor.
Eu mudei muito nos últimos anos, mais até do que já posso notar,
mas ainda não passei acreditar em acaso."
(Ana Jácomo)